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MÚSICA

Renato Borgo­moni

28 e 29.11.08

A obra musical de Renato Borgomoni, 93, o inédito mais idoso da história do samba, vai sair de Santos e aportar no palco do Centro da Terra, nos próximos dias 28 e 29 de novembro, sexta (21h30) e sábado (21 horas).

O show apresenta um pouco da história deste compositor popular, registrada no CD Cavalo de Praia Canta Renato Borgomoni: 90 Anos de Samba. As 17 músicas gravadas foram selecionadas entre mais de uma centena de canções, criadas ao longo de 70 anos de atividade como compositor, iniciada em 1938. O álbum foi produzido pelo Projeto Cavalo de Praia (grupo que atua na pesquisa e gravação de compositores inéditos da Baixada Santista) em parceria do com a Guela Produções, de São Paulo, e patrocinado pela T.B.E. (Transmissoras Brasilelras de Energia), por meio da Lei de Incentivo à Cultura do Governo Federal. Roberto Biela assina direção musical e arranjos; já Fernando Figueira Borgomoni e Mariza Adães Mendes Freitas são responsáveis pela direção geral do álbum.

O show no Centro da Terra tem formação instrumental de samba tradicional com participação de sete músicos – Luiz Cláudio Santos (violão e direção musical), Paulinho 7 Cordas (violão de 7), Rudney Fernandes (cavaquinho), Everaldo Cassimiro (trombone) e Nino, Rubens Gordinho e Delcinho Mendes (percussões) – e cinco intérpretes: Elenira Ribeiro, Luiz Cláudio Santos, João Maria, Júnior Borgomoni e Kika Willcox. O cenário reproduz um boteco, onde músicos e intérpretes estarão em cena cantando Borgomoni.

A diversidade de estilos e temas é a tônica deste show: sambas compostos em vários momentos do século XX, da década de 30 à de 90. A presença do compositor será por meio de imagens e depoimentos projetados em num telão, pontuando momentos da apresentação, ora com histórias sobre uma composição, ora com cenas da vida do compositor. O roteiro do show e do CD é formado pelas canções Quem Viu, Viu, Como Nasceu o Cavaquinho, 3515, Bom Mesmo, Chuvinha Malvada, Se For Questão de Rosas, Ai, Ai, Ai, Coração, Reencarnação, Chove Sim, São Paulo Quatrocentão, Comprei Sapatos Para Ela, Banho na Minhoca, Se Todo o Lugar do Mar Tem Peixe, Peixe de Pobre, No Fluxo e Refluxo, Vou Vender Meu Samba e A Vingança do Pindoba.

Renato Borgomoni conhecido também como ReBor ou Seu Renato – é do interior paulista, mas morou no bairro do Belém, em São Paulo. Uma das faixas do disco, São Paulo Quatrocentão foi composta em homenagem à cidade, no dia 25 de janeiro de 1954, quando, já residindo em Santos, sobe a serra para visitar um amigo e se perde. Se questionado sobre fazer samba paulista ou carioca, Borgomoni responde com uma ironia fina também presente em muitos de seus sambas: não sou poeta, menti./ Versifico só por troça./ Na escola nunca aprendi,/ pois fui criado na roça,

Intérpretes:

Elenira Ribeiro, Luiz Cláudio Santos, João Maria, Júnior Borgomoni e Kika Willcox.

Músicos:

Luiz Cláudio Santos (violão e direção musical), Paulinho 7 Cordas (violão de 7), Rudney Fernandes (cavaquinho), Everaldo Cassimiro (trombone), Nino (percussão), Rubens Gordinho (percussão) e Delcinho Mendes (percussão).

CD e DVD (Vou Vender Meu Samba):

à venda no local: R$ 10,00

www.myspace.com/renatoborgomoni

A história

E essa é a história de como, em 10 anos, enquanto Seu Renato ia dos 80 aos 90, sua obra é salva do esquecimento. 70 anos de composições começam a ser reveladas e seu autor torna-se o inédito mais idoso do país.

Em 1995, a diretora e produtora de cinema Ana Paula Guimarães deu inicio a uma série de depoimentos audiovisuais com Renato Borgomoni, então com 79 anos. Foi primeiro passo para resgatar a obra de Rebor, apelido carinhoso dos poucos que conheciam suas composições. Ele não esperava que sua obra viesse a ser gravada. A guinada se deu quando o recém-criado Projeto Cavalo de Praia, que pesquisa e grava compositores inéditos da Baixada Santista, convidou-o para um CD coletânea de seis compositores de Santos, o Cavalo de Praia: Sambas da Ilha, de 2001. Assim se deu o primeiro registro da música Vou Vender Meu Samba, que foi selecionada no Prêmio Caras de Música (2002) na categoria Samba Revelação. O plano a seguir era lançar um CD com a obra de cada um dos compositores. O primeiro: Seu Renato. Em 2005, o Projeto Cavalo de Praia encontra Ana Paula Guimarães, da Guela Cine Produções, e acerta um show, a ser gravado em CD e DVD, no Sesc/Santos. O material gerado compõe o curta metragem Vou Vender Meu Samba, lançado em 2007, e é o segundo lançamento em CD do Projeto: Cavalo e Praia Canta Renato Borgomoni: 90 Anos de Samba.

Renato Borgomoni

Vou vender meu samba de qualquer maneira / vou pôr no jornal de segunda-feira.

Como muitos dos melhores compositores brasileiros, Renato Borgomoni, 93, viveu seus 70 anos de samba, marchas carnavalescas, sambas-canções e outros estilos sem se importar com os modismos da indústria fonográfica. Ele tem aquela veia do samba, presente em vários autores, que os transforma em verdadeiros catedráticos sem escola. De origem humilde, filho de imigrantes italianos, fala pausada e firme, olhos azuis que magnetizam qualquer interlocutor, sua história de vida acompanha a história do século, do país e da cidade que ele adotou como sua: Santos, onde aportou vindo de Vera Cruz, na região de Marília, pelos idos de 1935.

Na cidade, conhecida como Porto Vermelho, ele encontrou a poesia e o idealismo que estavam em suas veias de filho de anarquista italiano. Integrou as hostes do Partido Comunista e tornou-se fundador e dirigente de uma de suas células mais ativas, no bairro Campo Grande. A atividade política era apenas uma das múltiplas ocupações: foi sapateiro e fabricante artesanal de calçados, jogador de futebol, atleta, garçom, comerciante de secos e molhados e de armarinho, vendedor de perfumes (embora seja desprovido de olfato), bagrinho da estiva e consertador de carga e descarga do porto de Santos, profissão na qual se aposentou. Mas só uma atividade sintetizava todas as outras e tecia o fio condutor de sua vida: a composição.

Encantado com as belezas de Santos, suas praias, esse sensível observador extravasou, em mais de uma centena de letras e músicas, suas argutas e precisas observações sobre os mais variados temas. ReBor, como é chamado pelos íntimos, construiu uma abrangência temática em sua obra que, ao lado de um estilo exclusivo e sui generis, empresta-lhe um significado especial: o porto do trabalho e das lutas proletárias, as pescarias e o mar, a família e o desafio de mantê-la com dignidade, o Santos Futebol Clube, a lua… companheira de quem ama, a beleza das mulheres e das praias, a folia carnavalesca, onde quanto mais loucos juntos, mais lindo é o carnaval. As letras de Borgomoni passeiam entre a carga dramática de um Lupicínio… coração pára, pára de bater… e a ironia poética de um Adoniran Barbosa, para quem ele compôs uma resposta à Saudosa Maloca, onde reconstrói o tema do grande compositor paulistano num arremate genial e surpreendente… Saudosa maloca / maloca querida / é um fruto do sistema/ pra infernizar nossas vidas. Sua intuição musical é tão apurada que, apesar de não conhecer música ou dominar qualquer instrumento, suas soluções musicais fogem do lugar comum. Essa originalidade, presente também nas melodias, surpreendeu todos os músicos envolvidos no registro de sua obra.

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