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MÚSICA

Dione Carlos: Kaim

Dione Carlos: Kaim

06, 07, 08, 13, 14 e 15.10.17: sex 21h, sáb 20h, dom 19h

K A I M é livremente inspirado na obra Caim, de José Saramago. Ponto de partida para a construção da obra teatral, além de pesquisas sobre as religiões Abraâmicas (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo), uma vez que tais religiões construíram a sociedade ocidental do modo como a conhecemos hoje. Se “a poesia é uma tentativa de retornar ao paraíso”, K A I M é a travessia por um deserto perene, onde a intolerância aumenta exponencialmente todos os dias. Ele é o primogênito, filho de Adão e Eva, herdeiro do amor de Deus pelos seres humanos e da imagem e semelhança entre Este e suas criações. É também o primeiro homicida, aquele que inaugura a intolerância, o assassinato, a morte. É banido e marcado. Não pode mais cultivar a terra como agricultor. Torna-se construtor de cidades. Inaugura o mundo em que vivemos, constrói as bases da sociedade na qual estamos inseridos. Moramos em suas megalópoles. Somos o público ideal do seu show de intolerância.

Na obra teatral, Kaim reescreve seu nome em nova grafia e compartilha com o público a sua condição de imortal. Seu castigo é não poder morrer. Este é seu testemunho. Kaim surge como uma figura que não aceita ficar no anonimato, não ser escolhido, reconhecido pelo Pai, pelo sistema, mas que enfrenta o mesmo ao não ser contemplado. Anti-herói clássico. É uma figura mordaz, que dá mostras de cansaço diante do que ele mesmo criou a partir da sua transgressão. Fadiga esta, advinda de um sistema patriarcal, com sinais evidentes de falência múltipla de todos os órgãos. O patriarcado com septicemia.


Em Caim, de José Saramago, personagens são subvertidos e reinscritos. O mesmo ocorre no texto teatral K A I M, cuja grafia diferente do nome original, indica ser esta uma outra narrativa a partir do mito de Caim e Abel, mantendo-se a figura de Lilith como um oposto complementar feminino. Aliás, Lilith e Eva, surgem como lugares possíveis, onde a poesia habita na carne. Um movimento como o DAESH (ISIS- Estado Islâmico), que utiliza de maneira completamente deformada uma religião como o Islamismo para justificar suas atrocidades, é um exemplo contundente de como o pensamento patriarcal radical funciona: Seus mercenários não temem a morte, mas morrer pelas mãos de uma mulher, pois acreditam que, desta forma, não irão ao paraíso. A mulher é considerada impura.


As combatentes Peshmerga, do exército curdo, atualmente em confronto direto com os membros do DAESH, simbolizam a luta das mulheres em todas as partes do mundo, inclusive no Brasil, contra um sistema patriarcal, que silencia, boicota, mata. Lilith, citada apenas na fala do rabino com o qual conversamos e veementemente negada pelos outros líderes religiosos, é descrita como um Demônio no Judaísmo. No decorrer das pesquisas, descobrimos que uma das possibilidades, em termos de narrativa mítica, é que ela tenha sido criada não da costela de Adão, mas do mesmo material utilizado por Deus para o primeiro homem. Sendo assim, durante as relações sexuais com Adão, nega-se a permanecer sempre por baixo e foge do paraíso, sendo perseguida por Anjos Celestiais. Consegue escapar e estabelece uma união com os Anjos Caídos, unindo-se a Samael. Logo, Lilith é também uma rebelde, uma opositora, uma inquisidora dos desígnios de Deus.


Segundo historiadores, Lilith aparece como uma Deusa de antigas religiões pagãs, que mantinham relação com a natureza e não dividiam o mundo em bem e mal, bom e ruim. Seus Deuses possuíam características ambíguas. Lilith é citada entre os Sumérios, os Babilônios e os Mesopotâmicos, como uma Deusa ligada ao prazer sexual. Entre os Hebreus, ela é descrita como um Demônio, que mata os recém-nascidos.

Nesta ocupação do Teatro do Centro da Terra, temos uma instalação com o ator Kenan Bernardes e a perfomer Adelita Ahmad, ambos atuando com a dramaturgia do texto de Dione Carlos; da luz, cenário e direção de Wagner Antônio; assistência de direção de Laura Salerno e da música de Miguel Caldas . As camadas dramatúrgicas estão em cena, expostas ao público, no que pode ser entendido como uma abertura de processo e um convite à uma experiência sensorial, onde o público participa como receptor ativo e não como espectador passivo.

 

DIONE CARLOS

Cursou Jornalismo na Universidade Metodista de São Paulo. Estudou atuação na escola de teatro Globe-SP. Trabalhou como atriz na Cia Teatro Promíscuo, de Renato Borghi e Élcio Nogueira. Formada em dramaturgia pela SP Escola de Teatro, desenvolve parcerias com Cias de teatro. Estréia com a peça Sete, na Cia Club Noir, sob a direção de Juliana Galdino, em 2011, um pouco antes do fim do curso de dramaturgia. Este mesmo texto é selecionado para a Mostra de Dramaturgia do SESI-Paraná e encenada em Curitiba, em 2012. É autora das peças Oriki, Titio e Baquaqua (com a Cia do Pássaro, sob direção de Dawton Abranches), Sereias e Bonita (com a Cia do Caminho Velho, sob direção de Alex Araújo), Mamute (com a Cia do Mofo, sob direção de Fernando Gimenes e Carla Zanini). É convidada pelo diretor e crítico teatral Ruy Filho para participar da Ocupação do Teatro do Centro da Terra. Participa com o texto Kaim, sob a direção de Wagner Antônio e atuação de Kenan Bernardes. Escreve o texto Revoltar, para a Cia Livre de Teatro, sob direção do diretor Vinicius Machado Torres. Publica na revista Jandique, de Curitiba, o texto A casa branca. Inaugura a sessão Teatro para os ouvidos, na revista Antropositivo, com o texto Dalí. Colabora com o site Caos descrito, que une fotografia e literatura, onde assina vários textos. Titio, seu primeiro conto publicado, participa de uma coletânea da revista Saúva. Mátria é selecionada e publicada pela SP Escola de Teatro em 2011. Oriki recebeu indicação ao Prêmio Aplauso de dramaturgia (2014).

 

WAGNER ANTÔNIO

Artista formado pela Escola Livre de Teatro de Santo André (2009), Wagner Antônio é um dos fundadores do coletivo teatral 28 Patas Furiosas, onde atua como encenador, iluminador e cenógrafo. Dirigiu o espetáculo de estreia do grupo lenz, um outro e o novo espetáculo, A Macieira. Em direção, destaca-se O Homem Elefante (2014), espetáculo dirigido por Wagner Antônio e Cibele Forjaz para a Cia. Aberta, no teatro Oi Futuro no Rio de Janeiro. Como iluminador, assina a luz de diversas produções em teatro de diretores como Luiz Fernando Marques (Grupo XIX de Teatro e Grupo Kunyn) – Orgia e Desmesura; Alexandre Dal Farra e Clayton Mariano (Tablado de Arruar) –Abnegação III; Rafael Gomes e Vinícius Calderoni (Empório de Teatro Sortido) – Um Bonde Chamado Desejo,Ãrrã; Roberto Alvim e Juliana Galdino (Club Noir), Cibele Forjaz – Galileu, Galilei; Adolf Shapiro (mundana companhia) – Pais e Filhos; Caetano Vilela e Gerald Thomas (Cia. de Ópera Seca). Foi indicado ao Prêmio Shell de Melhor Iluminação pela luz de H.A.M.L.E.T. (2010) de Roberto Alvim, dirigido por Juliana Galdino, com a Cia. Club Noir. Assinou a luz de duas produções em Ópera: Il Trovatore e Otello no Festival de Ópera do Theatro da Paz em 2013 e 2014 (Belém). Em 2015, foi iluminador adjunto do encenador Caetano Vilela nas óperas: Um Homem Só e Aynadamar no Theatro Municipal de São Paulo. Em 2017, venceu o Prêmio Aplauso Brasil de Melhor Iluminação por Gota D’Água a Seco, direção de Rafael Gomes.

 

KENAN BERNARDES

Formado pela Escola Livre de Teatro de Santo André.

Ao longo de sua trajetória participou das seguintes montagens como ator: “lenz, um outro” (2014/2015), texto de Tadeu Renato, direção de Wagner Antônio com o coletivo 28 PATAS FURIOSAS.  

Com o COLETIVO QUIZUMBA: “Oju Orum” (2015), texto de Tadeu Renato e direção de Johana Albuquqerque. “Quizumba!” (2013), texto de Tadeu Renato, direção de Camila Andrade.

Com a CIA. CLUB NOIR: “TRÍPTICO [Richard Maxwell]: Burger King/ Casa/ O Fim da Realidade (2010), direção de Roberto Alvim (Indicado ao Prêmio BRAVO 2010 de Melhor Espetáculo do ano e indicado ao Prêmio SHELL 2010). Além disso, foi eleito o melhor espetáculo nacional no mesmo ano por um conjunto de críticos reunidos pelo jornal FOLHA DE SÃO PAULO; foi apontado como um dos 4 melhores espetáculos de 2010 pelo jornal O ESTADO DE SÃO PAULO; e foi escolhido pelo corpo docente da USP – Universidade de São Paulo – como objeto de estudo na publicação SALA PRETA – revista de estudos teatrais); “H.A.M.L.E.T.” (2010) de Roberto Alvim, direção de Juliana Galdino, também indicado ao Prêmio Shell 2010.

Em 2009 participou dos seguintes projetos: “Anjo Negro” de Nelson Rodrigues, direção de Juliana Galdino e “Os Sete Gatinhos, também de Nelson Rodrigues, direção de Roberto Alvim.

 

ADELITA AHMAD

Adelita Ahmad, 35 anos, brasileira.  Iniciou seus estudos artísticos em 1997, em cursos de teatro. Formada como atriz (Teatro Escola Célia Helena), e com interesse em performance, gradua-se em Artes Plásticas (FAAP), em 2005.

Desde então participa de diversas exposições artísticas em locais como Galeria Vermelho, Sesc Pompéia, Casa Tomada, Casa das Caldeiras, Pivô e espaços públicos . 

Com a curatoria forense participa de  residências artísticas em Bogotá e Chile, realizando performances locais. 

Desde 2011 integra o Ghawazee, coletivo de ação interdiscipinar formado pelo encontro entre 11 mulheres que juntas inventam práticas a respeito de coletividade, gênero e performance como proposição poética para espaços públicos e de convivência.  


MIGUEL CALDAS

Sonoplasta, Músico e Sound designer; já foi baterista em espetáculos musicais e em conjuntos de jazz, contra-regra, diretor de cena e técnico de palco em shows de rock. Integrou o Teatro da Vertigem de 2009 a 2015 como pesquisador, criador e operador de audio e, desde então, tem se especializado em trilha sonora e desenho de som para teatro com ênfase em espetáculos realizados em espaços não convencionais. Com o Vertigem criou a Trilha Sonora e a operação de som móvel do espetáculo Bom Retiro 958 Metros e foi o compositor e sonoplasta de todos os espetáculos do projeto ‘Novos Encenadores’. Mantem uma forte parceria com a diretora Carolina Mendonça desde 2011 como criador de toda a parte de som de seus trabalhos (‘Valparaiso, Um Esboço’, ‘Uma Historia Radicalmente Condensada da Vida Pós-Industrial’, ‘Tragedia, Uma Tragedia’ e ‘Nós, os Outros Ilesos’); criando a concepção sonora desses espetáculos desde o inicio, como parte indivisível do desenvolvimento da encenação.

Formou-se no curso FME – Formação de Músicos educadores na escola Espaço Musical de Ricardo Breim e colabora com diversos grupos de São Paulo como Cia. Livre (operação de áudio dos espetáculos da ocupação ‘Cia. Livre 10 anos’, direção musical de ‘Objeto Conferencia para Inventario Inacabado’ e criação de sonoplastia e desenho de som dos espetáculos integrantes do evento ‘Anti-Comemoração dos 50 anos do Golpe Militar’); Cia. dos Outros (criação de sonoplastia, Trilha Sonora e desenho de som dos espetáculos ‘A Pior Banda do Mundo’ e ‘Solos Impossiveis’); Cia. Hiato (operação de som nas viagens internacionais de ‘O Jardim’ e desenho de som de ‘Amadores’); Emporio de Teatro Sortido (composição de Trilha Original e desenho de som de ‘Arrã’, ‘Arqueólogos’ e ‘Chorume’), entre outras produções independentes.


LAURA SALERNO

Graduada no Instituto de Artes da UNESP, integrante e gestora do coletivo 28 Patas Furiosas e do Espaço 28. Trabalha como assistente de direção de Wagner Antonio em seus trabalhos no 28 Patas Furiosas e como assistente de direção de Marcos Damigo nos projetos Deus é um DJ 2.0, Electronic City e Leopoldina Independência e Morte. É co-fundadora do coletivo Formigueiro onde pesquisa e promove a inovação nos campos da produção independente e gestão cultural e co-fundadora da Edições de Risco, coletivo de publicações independentes na cidade de São Paulo. Integra o núcleo de pesquisa NuDEs em arte e tecnologia e trabalha como iluminadora de shows, espetáculos teatrais e instalações. Foi diretora de produção da Cia Livre, dirigida por Cibele Forjaz entre 2014 e 2015. Coordenou a produção de diversos eventos e espetáculos no Sesc, Oficina Cultural Oswald de Andrade, teatros distritrais da cidade de São Paulo, entre outros lugares e instituições. Como assistente de produção trabalhou em espetáculos de Hector Babenco, Enrique Diaz, Laís Bodansky, entre outros. Como iluminadora, além dos trabalhos em teatro que dirigiu, e demais peças teatrais, assina a luz dos shows das bandas Vitrola Sintética,Serapicos, da cantora Marina Melo e dos cantores Daniel Salve e Felipe Antunes. Recentemente colaborou com a instalação luminosa do projeto TOCA featuring the city com o coletivo Imagination of Things (Brasil/Estados Unidos).

 

FICHA TÉCNICA:

Dramaturgia: Dione Carlos

Encenação, Luz e Cenário: Wagner Antônio

Ator: Kenan Bernardes

Ação Performática: Adelita Ahmad

Música: Miguel Caldas

Assistência de Direção: Laura Salerno

Assistência de Iluminação: Douglas de Amorim

Fotografia: Julieta Bacchin

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